Igreja Alienada


Me perdoem o tamanho do texto, foi inevitável!

Durante as eleições passadas para presidente a igreja evangélica brasileira deu um recado forte e incisivo para esta nação: quem ignorar os mais de 50 milhões de evangélicos pode sofrer sérias consequências na eleição. A igreja mostrou que pode fazer uma enorme diferença e nenhum candidato pode mais desprezar o povo de Deus caso queira ser eleito. Somado a isso há o fato que as estatísticas apontam: em 20 anos, mais da metade do nosso país será evangélico. Sempre vibrei com essas estatísticas, mas agora, além de vibrar começo a me preocupar. Sabemos que quantidade não é garantia de qualidade e que crescimento é diferente de inchaço. No entanto, além dessas questões, há outras que agora me preocupam.
No período mais recente das eleições para presidente, dois temas se tornaram centrais na discussão envolvendo os evangélicos: o aborto e o homossexualismo. Assistindo a TV, vendo a internet e observando a forma como os irmãos em Cristo mais próximos a mim reagiram, logo percebi que o movimento era generalizado. O aborto e o homossexualismo eram os dois únicos assuntos que os irmãos levaram em conta na hora de decidir em quem votar. Contudo, outros importantes temas para o nosso país ficaram de fora, tais como reforma agrária, tributária e política, educação, infraestrutura, geração de emprego, saneamento básico, crescimento econômico, meio ambiente, cultura, saúde e segurança pública, ciência e tecnologia, esporte, distribuição de renda, etc. Se os dois únicos aspectos que me fazem escolher ou rejeitar um candidato é sua posição a respeito do homossexualismo e do aborto, então isso mostra o baixo nível social que se encontra o debate político envolvendo cristãos.
Diante disso, não entendo como as pessoas que fazem um gigantesco alarde contra o aborto e homossexualismo são as mesmas que silenciam diante da violência à mulher, das péssimas condições na educação brasileira, da necessidade urgente de reforma política e tributária, do enorme descaso do poder público com o alto índice de violência, dos frequentes casos de corrupção, etc. A lista de problemas é enorme. É por isso que me preocupo atualmente. O que questiono é o fato de que há um nível assombroso de outros assassinatos ocorrendo no país diariamente por outras causas e os mesmos que se opõe ao aborto não dizem nada. Ora, se sou tão enfático em me opor e me posicionar em relação ao aborto, porque a mesma energia não é empregada contra os milhares de assassinatos praticados neste país por outras causas? Quantas crianças morrem de fome, violência, drogas e os mesmos que se opõem ao aborto não se manifestam! Quantos assassinatos ocorrem neste país devido a outros motivos e os opositores do aborto silenciam! A questão que coloco é: se somos tão a favor da vida por que só nos posicionamos em relação ao aborto e não falamos (e nem fazemos) nada contra as drogas, violência, miséria, trabalho escravo? Onde está o alarde? Ou será que a vida de um adulto, criança, mulher e adolescente tem menos valor que a de um feto? Por que a igreja, blogueiros e comentaristas 'anônimos' não se posicionam contra a corrupção que devora esse país? Por que nós não desenvolvemos mecanismos eficientes para combater o lixo que está em nossa nação?
Outro exemplo clássico e digno de nota: em todo o Brasil, milhares de adolescentes são vítimas de exploração sexual por caminhoneiros, estrangeiros, políticos, etc. Onde está a igreja que não diz e não faz nada a respeito? Só falam quando o assunto é aborto ou homossexualismo! É a vida intrauterina mais valiosa do que a extrauterina? Naturalmente sei que aborto é assassinato e sou absolutamente contra essa prática. De igual modo, sou contra a prática homossexual e a união gay. Porém, o que vejo com frequência é um discurso que soa hipócrita, pois desconsidera que o simples fato de garantir a um feto que ele nasça não é garantia de uma vida digna. Se a igreja deseja realmente combater o aborto, deve atingir todos os meios possíveis que levam à sua prática e não apenas as leis. Ora, se um candidato é contra o aborto mas não possui nenhuma proposta de governo sólida para combater a criminalidade, as drogas, a miséria e a desigualdade social, então ele favorecerá outros crimes equivalentes ao aborto. Mesmo que a lei proíba o aborto caro leitor, vc acha que ele deixará de ser praticado? Além da lei, deve-se pensar em todos os mecanismos possíveis e imagináveis para evitar essa prática. O fato de um candidato ser contra o aborto não significa necessariamente que ele seja a favor da vida. Ser contra o aborto não é suficiente, tem que ser contra a violência, contra a corrupção, contra as drogas, contra a impunidade, contra a injustiça! É para isso que serve investimentos maciços em educação, cultura, geração de emprego, etc. Quando falo em educação me refiro à verdadeira e não a essas escolas e universidades que não ensinam ninguém a pensar, raciocinar, avaliar, investigar e questionar. É por termos uma nação burra que leis pró-aborto são aprovadas. É por termos uma nação burra que a PLC122 foi elaborada. Se amamos tanto a vida humana (intra ou extrauterina), deveríamos entender que o modo de preservá-la não se resume a dar continuidade a gestação, mas de oferecer condições dignas para a manutenção da mesma.
Apesar de tudo, não quero levar o leitor a pensar que as questões envolvendo aborto e homossexualismo são pormenores. Ambas são questões relevantes, mas a análise destes assuntos deve levar em conta diversos outros aspectos que estão direta ou indiretamente relacionados. Lamento ver uma igreja incapaz de analisar os fatos globalmente e não localmente. Acredito que na hora de votar, o eleitor deve incorporar em sua pesquisa de candidatos todos os assuntos que envolvem o país e não apenas alguns em particular. Nas eleições passadas votei em vários candidatos: Heloísa Helena, Marina Silva, Cristovam Buarque, Lula, Dilma, etc. Jamais considerei Lula e Dilma mitos, nem qualquer outro candidato. Não tenho mitos e nem ídolos! O meu Deus é Jesus Cristo! Não conheço nenhum candidato que seja absolutamente isento de falhas, por isso tento votar naquele que considero o menos ruim para o meu país e não apenas para os evangélicos em particular. No entanto, se um candidato aprova declaradamente o ‘kit gay’ para as escolas, se ele aprova a PLC122 e apoia a ditadura gay e coisas semelhantes, então certamente esse candidato deve ser rejeitado. Apoiar manifestações pacíficas é outra história! Mesmo que a marcha gay, por exemplo, tenha objetivos que nos opomos, qual é o grupo social que deve ser proibido de ir às ruas lutar por causas que defende? A igreja deve silenciar seus opositores expondo os argumentos da verdade do Evangelho e não impedindo grupos sociais de fazerem manifestações pacíficas. Se estas manifestações adotam práticas indignas, então as práticas indignas devem ser rechaçadas, mas não a manifestação em si. A igreja deve se manifestar contra o pecado, mas sem tentar impor uma ditadura evangélica. Se o movimento gay deseja implantar uma ditadura homossexual, então a igreja deve combater, mas sem cair no mesmo extremo de tais movimentos.
A igreja deve se posicionar, se manifestar e se apresentar. Omissão e silêncio são coisas que nunca defendi e jamais defenderei. Porém, a igreja deve fazer essas coisas sem usar meios indignos. Dizer, falar, divulgar, comentar, anunciar, pregar e ensinar a verdade, é diferente de impor a verdade. Devemos rejeitar as imposições arbitrárias seja de que grupo for. Qualquer tipo de ditadura (gay ou evangélica) jamais deve ser apoiada. Devo lembrar ao leitor que um presidente do Brasil não vai governar 50 milhões de evangélicos, ele vai dirigir uma nação com mais de 190 milhões de brasileiros. Dentro desse universo há diferentes grupos sociais lutando por algo em que acreditam. É por isso que Paulo recomendou: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.”(I Tm 2.1-4) Ora, por que aquelas pessoas que atacam ferozmente o governo fazendo uso das Sagradas Escrituras não divulgam com a mesma energia este ensinamento de Paulo contido em I Tm 2.1-4? Simples: porque são pessoas carnais cujo único objetivo é usar a Bíblia como uma ferramenta para defender interesses escusos. Essas pessoas não querem praticar a Palavra de Deus, desejam apenas criar um terrível ambiente de guerra satanizando partidos políticos. Elas não estão interessadas em promover a saúde espiritual do Corpo de Cristo no Brasil. Querem apenas usar a igreja em favor de seus interesses pessoais. Não investem tempo em oração e intercessão, mas gastam tempo se dedicando a criticar, ofender, detratar, discutir, caluniar e difamar (Pv 26.21,22). Esse tipo de comportamento carnal deve ser identificado, rejeitado e combatido.
Em nenhum momento dos Evangelhos vemos Jesus atacando Pilatos, Herodes, Roma, etc. e nem incentivando qualquer tipo de confronto. De igual maneira, não vemos Paulo, Pedro, Tiago, João ou qualquer outro apóstolo preocupados com os governos ímpios de suas épocas. De fato, a instrução de Paulo sobre o modo como devemos tratar as autoridades está registrada em I Tm 2.1-4, mas esse ensinamento poucos conhecem. Alguns citam como exemplo João Batista e Elias, porém foram casos específicos que eram orientados, inspirados e impulsionados por Deus para fazerem o que fizeram. Não foi simplesmente o seu senso de justiça! A constituição da nação de Israel era a Torah de Moisés, enquanto a constituição brasileira não possui nenhum compromisso com as Escrituras. Vivemos em um contexto social, cultural e espiritual completamente distinto daquele vivido por Elias e João Batista. Combater governos corruptos não foi o principal foco dos seus ministérios, eles apenas faziam o que Deus mandava. Além disso, um profeta não é profeta apenas por denunciar os pecados das autoridades do país em que vive. A coisa mais fácil do mundo é denunciar erros do governo e muitos já fazem isso sem ser profeta! Além disso, o profeta era destinado especificamente a corrigir os reis de Israel sem medo das consequências. Ora, como está Israel hoje? Onde estão os mesmos profetas? Agora estamos na graça e o ministério da graça possui suas próprias ferramentas. Os cristãos no Brasil não são apenas profetas, são também cidadãos brasileiros, possuem uma constituição e um amplo conjunto de leis. Eles também devem se posicionar no que diz respeito às leis de sua nação. Devem usar os recursos legais de forma legal para reivindicar um país melhor, e o aborto e homossexualismo não são os únicos problemas desta nação.
Além disso, qualquer candidato que seja eleito não está isento de cometer uma série de erros graves. Mesmo Davi, um homem segundo o coração de Deus, cometeu adultério e assassinato. Ora, se eu votasse em Davi para presidência de Israel, estaria eu apoiando seu adultério e assassinato? Qualquer ser com inteligência mínima conclui que não. A igreja jamais deve barganhar com a política, nem com a religião ou com qualquer coisa que seja, pois os princípios do Reino de Deus são inegociáveis! A única solução que encontro é a própria igreja apresentar candidatos que correspondam às expectativas, e além disso se engajar de forma contundente nas causas sociais que assolam o país.
Jesus ensinou o que devemos fazer, seja para presidentes, governadores, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, etc. A ordem de Jesus é clara: Mt 28.18-20; Mc 16.14-18; At 1.6-8. Esses versículos juntamente com I Tm 2.1-4 ensinam como a igreja deve agir com relação às autoridades. Siga as recomendações de Jesus e Paulo! Devemos anunciar, divulgar e defender a verdade para TODOS OS PÚBLICOS, independentemente de cargos e posições sociais que ocupam. Aqueles que enfrentam governos corruptos não são mais espirituais do que aqueles que estão nas favelas, ruas e praças divulgando o Evangelho. Não é profeta somente quem confronta os pecados da liderança! Isso não quer dizer necessariamente que se Deus nos guiar para confrontarmos uma autoridade devemos recusar. Quero dizer apenas que nossas ferramentas são espirituais e não são carnais (II Co 10.4-6), como alguns sugerem. Não devemos “matar os 450 profetas de Lula e Dilma” (já que alguns néscios comparam Lula com Acabe e Dilma com Jezabel). Aqueles que usam esse tipo de argumento militam não em função do Reino de Deus, mas em função de causas políticas pessoais. Usam a Bíblia não para propagação do Evangelho e o louvor genuíno a Deus, mas para promover ataques a partidos políticos. O propósito não é produzir a edificação do Corpo de Cristo, mas promover um ambiente de guerra associado unicamente com a política e sem nenhum compromisso com o Reino de Deus. Até o diabo usou a Bíblia segundo seus próprios interesses (Mt 4.1-11). A Palavra de Deus pode ser usada de maneira espúria para manipular mentes ingênuas em favor de causas políticas duvidosas. O leitor deve estar atento a esse tipo de manobra! Como bem observou meu caro colega de blog Will Filho: “esta inclinação política que faz uso da Bíblia como justificativa, acaba por distanciar as pessoas do centro, do alvo, do PROPÓSITO na anunciação do evangelho, e em troca disso terminam valorizando mais um "movimento" do que a pretensão real do evangelho.... pois o que se defende não é, necessariamente, o ser humano, o pecador carente de compreensão e arrependimento, para que este mude através da Verdade, mas uma "militância" em "nome da família", esquecendo-se de que família é feita de pessoas, e enquanto estas pessoas não forem respeitadas em seus direitos e expressões mais básicos, não há coerência nessa defesa.
Se quisermos de fato uma nação melhor, então devemos pregar o Evangelho não só ao povo, mas também a senadores, prefeitos, governadores, vereadores, presidentes, etc. Além disso, devemos seguir a recomendação de Cristo e de Paulo. Em meio a tudo isso, gostaria de citar um nome de alguém que segundo o meu parecer tem manifestado grande coerência em sua prática ministerial concernente à relação igreja-sociedade: o pastor Antonio Carlos Costa. Recomendo ao leitor consultar o site do seu ministério e o seu blog. Tenho certeza de que será enriquecedor neste debate. VALE RESSALTAR QUE CERTOS CRÍTICOS DO PASTOR ANTONIO CARLOS COSTA NÃO DESENVOLVEM 1/10 DO TRABALHO QUE ELE FAZ. SÃO "DOUTORES EM GABINETE" QUE RESUMEM SEU TRABALHO A ESCREVEREM ATAQUES PESSOAIS DESONESTOS, SENTADOS EM SUAS "POLTRONAS DA SABEDORIA". Não sabem o que significa de fato a verdadeira educação e a verdadeira cultura. Lamento que haja esse tipo de pessoa que faz uso das Sagradas Escrituras em um malabarismo teológico leviano apenas para promover e defender movimentos políticos e não para divulgar o verdadeiro conteúdo do Evangelho. Lamento pelos ingênuos leitores desse tipo de pessoa.
Diante do exposto quero apenas enfatizar que considero débil a posição da igreja evangélica brasileira em relação à política e que necessitamos urgentemente de boas orientações à respeito. Oremos ao Senhor para que nos encha de Sua sabedoria para sermos capazes de fazer um diagnóstico correto em benefício do nosso país.

Um abraço a todos!

Marconi

Comentários

  1. Rumores de que nova legislação de saúde obrigaria pessoas a implantarem chips sob a pele são falsos. Acesse o seguinte link:
    http://noticias.gospelmais.com.br/rumores-legislacao-obrigaria-implantarem-chips-falsos-34445.html

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