Indiferença ou participação?



       


        Qual deve ser o papel da igreja nesse importante cenário para o país? Diante dos atuais protestos que ocorrem na nação brasileira, a igreja deve ficar indiferente ou participar? A igreja deve participar como igreja ou como cidadã? Antes de responder essas perguntas com minhas próprias palavras, quero relembrar um texto já publicado aqui no PV. Julgo apropriado divulgá-lo por que ele responde com maestria alguns destes questionamentos. Eu intitulei o texto de O Preço da Indiferença:

“Quando os nazistas vieram buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.

Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.

Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.

Quando eles buscaram os judeus,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.

Quando eles me vieram buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar."

Martin Niemöller
(14/01/ 1892 – 06/03/1984)
pastor luterano alemão


Após a leitura do texto acima, vamos imaginar uma situação hipotética, porém plausível. Imagine que houvesse um projeto de lei em tramitação na Câmara ou no Senado que exigisse das igrejas o pagamento de impostos e fiscalização de todo dinheiro arrecadado. Suponha também que como reação a igreja conclamasse um protesto pacífico para todos irem às ruas. Agora imagine que nesse protesto convocado pela igreja, vândalos, arruaceiros e anarquistas se infiltrassem e fizessem a mesma baderna que foi feita pelo país nos protestos atuais. Qual seria a reação da liderança evangélica brasileira? Reconheceria como ilegal todo o protesto ou separaria o trigo do joio? Julgariam e condenariam todos do protesto ou só aqueles responsáveis pela baderna?
A igreja não é apenas igreja, ela também é cidadã e nossa cidadania não é exercida somente nas eleições, mas também em manifestações pacíficas. A igreja parece usar dois pesos e duas medidas em sua postura. Se os protestos são convenientes e se ela pode tirar alguma vantagem disso, então a igreja apoia. Porém, quando não há nenhuma vantagem explícita da qual a igreja institucionalizada possa usufruir, então ela ignora e até rechaça protestos exemplares. De fato, dou nota 10 para o que presenciei no Recife e nota 0 para os vândalos, mas as ações de vandalismo não apagam a beleza do protesto.
Recentemente, o pastor Silas Malafaia convocou a igreja para uma manifestação pacífica em Brasília. A data e o horário do evento coincidiam com uma quarta-feira à tarde em pleno horário de trabalho. Esse detalhe foi destacado várias vezes pelo pastor Silas: em pleno expediente, o povo convocado compareceu, sem restrições. Ora, que reação teria o mesmo pastor Silas por uma manifestação que não trouxesse nenhum ganho explícito para a igreja e coincidisse com o horário do culto? Imagine também que tal manifestação trouxesse benefícios diretos para o povo brasileiro, mas não para a igreja institucionalizada, o que ele diria? Devo lembrar que na convocação do pastor Silas não eram convidados apenas cristãos, mas qualquer cidadão brasileiro que simpatizasse com a causa. Por que então a igreja deve ficar indiferente aos apelos relevantes da sociedade? Temas como combate à corrupção, educação, saúde, segurança, etc. foram recorrentes nos protestos recentes, mas mesmo assim muitos líderes cristãos preferem condenar o movimento. Veja como somos incoerentes!
No quesito cidadania, a igreja precisa evoluir consideravelmente para não cometer injustiças camufladas de espiritualidade.

Um abraço a todos.

Marconi

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