Missionário - cidadão de segunda classe
Kelem Gaspar
Há crentes,
ministérios, pastores e igrejas que vêem o missionário como um cidadão de
segunda classe, alguém que não “deu certo” aqui e aventurou-se pelo campo
missionário por pura incompetência. Claro que se a visão é essa, ninguém tem o
menor desejo de orar, contribuir ou ajudar. Dá-se qualquer coisa, doa-se para o
missionário sem o menor pudor ou vergonha, o ventilador sem hélice, a roupa
usada em péssimo estado, a geladeira sem motor, o ferro sem resistência, enfim,
tudo o que é sem valor ou que dificilmente teria alguma utilidade. Crentes semeando
lixo na obra mais importante da terra, investindo sobras na obra pela qual o
Cordeiro deu sua vida. Na verdade, eu não tenho medo de afirmar que
essa história que missionário tem que ser miserável para provar sua devoção,
que o missionário deve andar mal vestido, passar fome e depender da caridade
alheia para sobreviver nasceu no inferno. É do diabo essa forma de pensar, e ele tem
feito um excelente trabalho de marketing, porque são muitos os cristãos que pensam
dessa maneira. Uma vez, enquanto eu estava no campo missionário nas
inóspitas selvas bolivianas, recebi de uma irmã um par de sapatos de cores e
modelos diferentes, amarrados com uma cordinha e com um bilhete que dizia:
missionária, aqui está esse par de sapatos, sei que são diferentes, mas você
não se importa, não é? Afinal de contas, você é missionária...
Encontrei certo
dia, um amigo, também missionário, em uma feira na cidade boliviana de Guajará
Mirim, ele estava indo dirigir uma reunião com os índios quéchuas, quando parei
para cumprimentá-lo, percebi que ele usava uma calça jeans muitos números maior
que o seu manequim, quando lhe perguntei o porquê, ele me disse que uma irmã,
proprietária de uma grande loja, havia percebido que ele só tinha uma calça e
lhe ofereceu uma, que por sinal, ela nunca havia conseguido vender, por ser
muito grande e feia. Olhe aí, o marketing do diabo dando certo novamente. Não
presta? Doe para missões. Está velho demais? O missionário reaproveita.
Quebrou? Dê para o filho do missionário. Rasgou? A missionária remenda.
Uma oferta assim agride a santidade de Deus, Ele deu seu único filho por essa
obra, Jesus deu sua vida para torná-la possível e nós não podemos
desvalorizá-la ao ponto de nossa oferta ser uma vergonha diante dos céus. Quer
abençoar um missionário, dê algo novo ou em perfeitas condições de uso,
lembre-se, sua
contribuição é uma excelente régua para medir seu compromisso.
Trecho do novo
livro da missionária Kelem Gaspar. Kelem é missionária com anos de militância
na obra do Senhor, no Brasil e em países amazônicos. Atualmente mantém uma
creche missionária e uma escola de Missões em Maracanã, no estado do Pará.
Conheça o blog
e o trabalho de Kelem Gaspar -
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